terça-feira, 16 de agosto de 2016

Sobre: Avatar- A Lenda de Korra (Livro 1)


Anos atrás escrevi um texto sobre Avatar - O último dobrador de ar e comentei minha vontade de escrever sobre A lenda de Korra.
Bom, a série terminou em 2014 e acompanhei cada episódio avidamente, mas escrevo apenas agora em 2016 sobre minhas impressões da série, uma vez que estou revendo com meu namorado.
 Sem spoilers e apenas sobre a primeira temporada

 As primeiras cenas de A Lenda de Korra já mostram sua maior vantagem sobre O último dobrador de ar, o orçamento e a equipe técnica.
 Dirigido majoritariamente por Joaquim dos Santos, diretor que assumiu a maioria dos episódios da primeira série a partir da segunda temporada de maneira brilhante, Korra não começa com os pecados da primeira temporada de Aang e, além de exibir escolhas acertadas da direção desfila uma animação maravilhosa reforçada por uma forte trilha sonora. Isso mostra que, toda a progressão técnica que observamos na primeira série não foi em vão, Korra começa mais forte em direção, mais forte em trilha e em diálogos porque houve um aprendizado real.
 Como uma série do mesmo universo, é natural que existam comparações entre Korra e Aang, no entanto para aproveitamento real dessa é necessário deixar Aang ir, e a série usa grande parte do primeiro episódio para passar essa ideia ao espectador. Mas dar continuidade a uma história que foi aprovada e é querida por todos, nem sempre é tão fácil e a Lenda de Korra tem um desafio pesado para trabalhar enquanto busca encontrar o seu caminho, bem como a protagonista imatura, Korra, que tem a tarefa difícil de manter o legado do querido Aang dentro e fora da estória.
 É uma nova era, com novos personagens e isso precisa ser deixado claro o mais cedo possível, iniciando 70 anos após os eventos retratados em O último dobrador de ar, o universo que conhecíamos sofreu imensas mudanças; A começar pela transformação do ambiente bucólico em urbano, steampunk e industrial. Somos apresentados a Republic City, uma cidade modelo idealizada por Aang para ser sede de um governo centralizado. O primeiro episódio abusa de planos abertos afim de contrastar o ambiente urbano de cores frias com as incríveis paisagens estonteantes de Aang;
 E uma nova era traz uma nova geração de personagens, todos confrontados com o mesmo desafio da protagonista, o de conquistar o espectador que invariavelmente vai compará-los aqueles da série antiga. A série faz a escolha feliz de não tentar colocar os novos personagens na posição dos antigos, pelo contrário, cria perfis diferentes para a nova jornada; mais uma vez passando longe do maniqueísmo e nos mostrando personalidades profundas, com vontades, motivações, defeitos e qualidades. E se a protagonista será inevitavelmente comparada com seu antecessor foi decidido apresentá-la o mais distante possível dele; Mulher, adolescente, insubmissa; Criada com uma noção muito pequena de mundo, conhecendo apenas o que lhe era permitido e julgando-se especial Korra começa suas aventuras já uma lutadora habilidosa, mas uma pessoa ainda muito crua; Exatamente o oposto de Aang.

Prepotente, insubordinada, arrogante e com muita vontade de conhecer o mundo e seguir o papel que acredita ter nascido para viver; Korra sai de sua vila e é apresentada ao caos da cidade e as dificuldades das relações humanas de maneira muito brusca, ao que reage impulsivamente e apesar de aparentar força, ela passa grande parte da temporada sofrendo de ataques de pânico só de pensar no que terá que confrontar. Fica claro, que, assim como na primeira  série, a lenda de Korra não será uma jornada por poder, mas por amadurecimento, mais uma vez demonstrando o brilhantismo da franquia.

A estátua gigante, bela, quase mística e transcedental de Aang em comparação com a pequena, humana, Korra.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Glass no Kamen e a vida de atriz

  Terminei recentemente de assistir Glass Mask 2005, uma adaptação recente de um mangá que tem sido lançado desde 1976 e sem previsão para terminar.

  O mangá de Suzue Miuchi já foi adaptado diversas vezes, duas vezes como série animada para televisão (anos 80 e em 2005), uma vez como OVA, ou seja, apenas para vídeo-dvd, e duas vezes para série live-action de televisão, uma no Japão e outra na Coreia;
 Trata-se de um clássico e é o segundo mangá Shoujo mais vendido da história!
O nome "máscara de vidro" é uma referência metafórica a máscara usada pelos atores durante as apresentações teatrais, que por ser feita de vidro pode se quebrar com o menor descuido do ator, e mostrar sua verdadeira face no palco.
Eu estava ansiosa para assistir essa série, pois sabia que se tratava de um clássico, mas pouco antes de iniciá-lo fiz uma busca online por críticas, apenas para checar se a adaptação 2005 era bem quotada ou se eu teria que ir atrás da mais antiga;
Boa parte dos reviews que li diziam que a série enaltece demais a profissão de ator e que graças a ele os espectadores começaram a respeitar e compreender mais esse ofício. Li até alguns reviews de pessoas que sempre acharam que atuar era algo chato e fácil, apenas decorar falas, mas que essa série abriu suas mentes.
Então eu assisti tudo bem atenta ao que é colocado e traçando paralelos com o tipo de conteúdo que tenho em aula, minhas leituras e minha vida pessoal.
Primeiro um breve resumo do enredo para aqueles que nunca assistiram/leram a obra.
Glass Mask fala da vida de Kitajima Maya uma garota que começa a série com 13 anos,e até onde foi publicado já é uma jovem adulta, e segue mostrando a vida de Maya no mundo das artes cênicas bem como a de sua rival, a bem nascida Ayumi Himekawa, ambas da mesma idade.
Maya e Ayumi crescem na área e possuem o mesmo objetivo conseguir um dia o papel de protagonista na peça Kurenai Tenyo, uma peça que não é encenada há anos pois nenhuma atriz foi considerada boa o bastante para fazê-lo.
Todas as experiências de Maya então, são importantes para que ela amadureça como atriz e possa um dia ser digna de interpretar a emblemática Kurenai Tenyo;
Durante o percurso Maya está presente em uma série de diferentes produções, entre elas doramas, filmes, comerciais e muitas, muitas, muitas peças de teatro.
Partiremos do princípio de que a protagonista Maya Kitajima é um tipo de gênio, ela nasceu para ser atriz, tem talento e é diferente de todos os outros mortais; Isso é afirmado mais de uma vez então, se tratando de uma série de ficção eu não vejo porque não aceitar isso como fato; No entanto, sua rival Ayumi não é genial, trata-se de uma garota que constrói seu sucesso com base no próprio esforço (e um pouquinho nos seus contatos, já que sua mãe é atriz e seu pai um diretor de cinema).
Mas mesmo em uma série cuja protagonista foi abençoada com o talento divido, o trabalho duro é mostrado bem como acontece na vida real; afinal o verdadeiro talento de Maya não é nada mais do que ser capaz de ignorar todo tipo de interferência externa e se concentrar apenas em sua atuação.
O anime mostra a dificuldade de se encontrar o tom certo da personagem e coloca várias questões que são muito pertinentes a nós estudantes.
Maya estudando o papel de uma garota cuja perna foi amputada.
Por vezes as personagens se colocam em situações de risco ou extremas para realizar sua pesquisa de campo, como no momento, ainda do primeiro arco em que Ayumi, garota rica, passa dias como pedinte para poder viver um mendigo no teatro ou quando Maya fica dias com uma venda nos olhos e proibida de falar para poder viver Hellen Keller;
Em outros momentos vemos as personagens construindo a gênese de personagem, lendo as frases repetidas vezes e colocando intenções diferentes, tomando aulas de dança, improvisação e trabalhando até a exaustão.
A professora Tsukikage por vezes usa de violência física e psicológica para extrair o que quer de seus atores e, embora isso pareça surreal existem sim linhas preparatórias que usam da exaustão física e psicológica do ator como forma de destruir o que já está construído e retirar dele tudo o que não pertence a personagem.
A disputa entre talento e trabalho duro está no centro das discussões da série, qual delas é mais válida? Outros questionamentos estão presentes: Tornar-se a personagem em cena significa ser um bom ator? Ou apenas um bom intérprete? Afinal o ator além de compreender o personagem que defende, deve também saber revelá-lo ao público...
Adaptação Coreana.
Uma pessoa com pouca vivência pode se tornar um bom ator? Afinal até que ponto as relações humanas podem ser mimicadas?
Entre outros temas abordados estão, a capacidade de um bom ator de criar e manter uma determinada atmosfera, as dificuldades do mercado bem como as rivalidades nesse meio, o monopólio das grandes empresas, questionamentos da adolescência e juventude, a paixão pela arte, a presença de 'idols' e pessoas que caçam sucesso dentro do meio e etc...
Ainda que não no centro da história existem momentos em que podemos perceber a existência da crise do teatro, da preferência do público pela televisão, da dificuldade que pequenas companhias tem para sobreviver e obter público e outros detalhes que enriquecem a história.
Eu poderia questionar a facilidade com que Maya entra no mercado de trabalho, mas ok, ela é um gênio e conheceu as pessoas certas; Então direciono a minha crítica a outro lado, a estética e linguagem das peças apresentadas.
 Grande parte das peças encenadas por Maya são absurdamente comerciais e realistas; Cheias de cenários e iluminação pouco interessante.
"Ora, é só um desenho, obviamente eles não vão gastar um tempão pensando na iluminação da peça X", você pode me dizer.
Mas por ser uma série que vai fundo ao retratar o ofício do ator, seria mais interessante se ela mostrasse com mais veracidade a indústria atual, que busca se reinventar constantemente e redescobrir a linguagem do palco.
As peças de Garasu no Kamen, fora pequenas exceções tem cenário complexo, ilustrativo e figurinos dignos de cinema; pouco é mostrado sobre o teatro tradicional japonês ou sobre teatro contemporâneo e aqueles com linguagens experimentais.
Por fim, uma outra crítica é sobre a pouca leitura dos atores, isso definitivamente não corresponde a realidade. (risos).
Se a protagonista, cujo talento é natural e assustador não fosse mostrada lendo, eu gostaria que pelo menos a antagonista, cujo talento é construído a duras penas tivesse uma cena lendo alguma das leituras obrigatórias.

Garasu no Kamen não é maravilhoso apenas por retratar esse meio de maneira realista e ainda cativante, mas por apresentar uma saga envolvente e personagens que não são lugar comum.

A protagonista não é a pobre garota indefesa e sofredora, pelo contrário, é teimosa, pavio curto e levemente egoísta já que coloca sua arte na frente das relações humanas, magoando algumas pessoas; Enquanto a antagonista é, orgulhosa mas incrivelmente batalhadora, e apesar da aparência não faz o tipo 'donzela mimada' , pelo contrário em várias cenas ela está suando, correndo e trabalhando duro.
Entre outros personagens interessantes estão Hayami Masumi, dono de uma influente produtora de arte que quer montar Kurenai Tenyo e que é conhecido por ser tão viciado em trabalho que é capaz de fazer qualquer coisa para conseguir seus objetivos, apesar do sorriso encantador;
O Sr. Rosas roxas, um fã de Maya que lhe manda flores e patrocina sua carreira de longe, não revelando para ela sua identidade. (mas para o público sim, só não escrevo aqui para não dar nenhum tipo de spoiler, ainda que nós saibamos sua identidade desde o primeiro momento).
A Professora Tsukikage, detentora dos direitos de Kurenai Tenyo e mentora de Maya, uma talentosa atriz cuja carreira teve um final trágico e que se transformou em uma mulher sombria;
E por fim, Sakurakoji Yuu,  um jovem ator que se torna amigo de Maya.
A série está mais que recomendada para todos, não digo isso apenas como fã de anime e mangá, mas como estudante de teatro :)

Para fins de comparação fica aqui a abertura, gracinha, da série de 1984

Glass no Kamen op por Peececraft

A da série para vídeo




E a abertura da série de 2005, a que eu assisti. (Achei a abertura fraca...)










quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sobre: Avatar, The last Airbender

Então eu finalmente assisti o programa mais comentado da Nickelodeon, Avatar, A lenda de Aang como prometido 10 meses atrás.


Decidi escrever esse review em três partes, uma para cada temporada porque elas oscilam muito em estilo. A ideia é escrever uma crítica sem spoilers para que qualquer um que ainda não tenha assistido a série possa ler, especialmente fãs de animação japonesa que tem um pé atrás com animação americana.
spoiler free ~


Livro 1: Água

A primeira coisa notável sobre A lenda de Aang é que o estilo é completamente inspirado em animação Japonesa mas ainda assim incrivelmente americano; Eu nunca tive boas experiências com esse tipo de desenho que fica "em cima do muro". Diferentemente da animação japonesa que é cheia de closes no rosto e expressão das personagens ou de cenas detalhe a americana usa mais planos abertos, é como se os americanos (over generalizando), dessem mais importância a storyline enquanto os japoneses aos personagens diante daquilo que está acontecendo.
Outra diferença que é a quantidade de frames desenhados, os americanos desenham muitos frames enquanto os japoneses deixam os movimentos reduzidos ao menos que a cena seja de destaque, notem como as personagens americanas movimentam os lábios perfeitamente como as palavras em Inglês! O problema é que quando decidem colocar efeitos de expressão comuns de anime (gota, personagens que caem no chão, olhos brilhantes etc...) eles não ficam orgânicos, pelo contrário quebram o fluxo de pensamento.
Outra diferença entre os dois estilos de animação, esse um pouco mais sutil é o uso das cores, animações japonesas tendem a usar cores mais saturadas.
A primeira temporada de Avatar tem problemas sérios de estrutura e direção, os personagens são incríveis e o roteiro é muito bem escrito e alinhado mas infelizmente, essas características não ajudam a torná-la emocionante e cativante, o foco é pouco colocado sobre as personagens que parecem adereços que ajudam a contar a estória. Não nos conectamos com nenhuma das personagens de maneira profunda.
A trilha sonora da primeira temporada é confusa e barulhenta. Usam variações do tema de abertura praticamente durante todos os episódios o que tira a força do tema em si, as músicas dessa temporada são fracas mesmo. A maioria delas é feitas com instrumentos de percussão o que é interessante e ajuda a compor aquele universo mas elas nunca se adequam ao momento em que são usadas e não conseguem trazer a profundidade que certos momentos necessitam.
(Enquanto isso, uma outra animação para crianças usa temas cheios de instrumentos de percussão e tem uma trilha incrivelmente emocionante e empolgante que ajuda a construir momentos de ação, tensão e drama. )
Quando a temporada chega ao final,  apesar da história ter caminhado, das personagens terem crescido e de  sequências e sequências de cena de ação épicas, infelizmente eu não podia estar mais apática, há inclusive a morte de uma personagem que, embora tratada como um acontecimento importante não me comoveu em nada, tudo isso em função dos erros de estrutura dos episódios anteriores.
(Note, que a própria cena de morte não possuí closes e planos detalhes, nos deixando distantes da situação e menos sensíveis a ela).
E assim... não muito convencidos ou apegados mas já suficientemente curiosos para saber como será o desfecho daquela história, partimos para o livro 2


Livro 2 : Terra


Ainda nos primeiros episódios do livro 2 os diretores parecem estar se acertando em relação ao estilo que seguirá a temporada, o segundo episódio da temporada já carrega mudanças drásticas de posicionamento de câmera que dão mais destaque aos personagens e as expressões faciais. Já nesse episódio temos uma sequência romântica que funciona muito bem e emociona, essa cena inclusive dá o tom de como será tratado o amadurecimento das personagens nos próximos episódios e temporada, de maneira mais plácida e calma sem a excitação e pressa que se observava na primeira.
As relações entre as personagens vão se fortalecendo, inclusive a entre os animais e os humanos, criando laços que comovem o espectador.
A persona de Sokka começa a ser melhor delineada e o garoto deixa de ser apenas o palhaço da turma para se transformar em um estrategista cativante enquanto Aang e Katara não sofrem transformações drásticas mas vão amadurecendo de maneira natural e se tornando mais reais dentro daquele ambiente.
Príncipe Zuko, o vilão que começou a ser mais aprofundado no final da primeira temporada rouba a cena durante o livro 2, e é uma surpresa muito bem vinda já que eles conseguem contar seu amadurecimento de maneira delicada e crível, e observe que desenhos americanos para crianças costumam ser maniqueístas então a atenção carinhosa que é dispensada a o príncipe e a sua relação familiar é uma surpresa maravilhosa!
Somos apresentados ao seu contexto familiar e começamos a notar semelhanças entre ele e o próprio protagonista, a relação entre o príncipe e o tio é de longe a mais bonita e explorada da série. (Até mais explorada do que o amor forte que sentem os irmãos Sokka e Katara).
Novas personagens chegam e todas ganham um olhar especial e personalidade cativante, destaco a princesa Azula que surge como uma psicopata louca cuja maldade faz parte de sua natureza e portanto não deve ser justificada, e para a nova integrante do grupo de heróis Toph a dobradora de terra, que consegue em tempo record se tornar amada por todos os espectadores com seu sarcasmo acentuado e sua falta de maneirismos para agradar os outros, Toph dá um sabor mais ácido ao time Avatar.
A trama ganha contornos mais sombrios e densos enquanto nossa noção do universo Avatar se expande quando chegamos a cidade de Ba Sing se no reino da Terra.
Durante essa temporada podemos observar o crescimento das personagens e o entrelaçamento das tramas coadjuvantes.
A trilha sonora durante essa temporada está bem melhor incorporada ao emocional das personagens e não destoa como anteriormente.
A mudança na maneira de conduzir a história e a escolha em aproximar o espectador das personagens foi com certeza o que me manteve assistindo Avatar. O season finale traz um plot twist realmente inesperado.

Livro 3: Fogo


A terceira e última temporada de Last AirBender se passa em território inimigo e destrói qualquer resquício de pensamento maniqueísta que pudesse habitar os pensamentos do espectador, o que continua incrível para um show americano, para crianças da Nickelodeon!
A temporada não possuí muitas cenas de batalha, pelo contrário, calmamente constrói o ambiente de apreensão pela guerra e fortalece os laços entre as personagens ainda mais.
Os diretores investem mais em cenas de caráter emocional ou subjetivo e menos na pressa de adicionar elementos ao enredo. Todos os protagonistas são desenvolvidos brilhantemente durante a temporada inclusive os antagonistas e coadjuvantes, e alguns momentos delicados são apresentados ainda que não sirvam ao enredo, mas apenas ao fortalecimento e delineamento do caráter e personalidade daqueles heróis.
(Como exemplo a relação de Katara com o pai).
O humor deixa de ser exclusividade das piadas de Sokka e trona-se focado nas relações interpessoais, o que é muito mais interessante e funcional!
Aang, o Avatar, apresenta conflitos muito interessantes e profundos quanto a sua responsabilidade ao longo da série e seu modo de lidar com as pessoas e com sigo mesmo vai progredindo de modo que quando o momento final chega e temos as sequências grandiosas de luta ele não parece um simples heroi corajoso e poderoso que almeja derrotar o mal, mas um garoto forte e sereno capaz de transmitir o peso de ser um heroi.
A trilha sonora ganha destaque e ajuda a trazer emoções fortes para as cenas onde inserida, quando finalmente ouvimos uma variação do tema de abertura são em momentos grandiosos.
Quando nos aproximamos do final da temporada estamos tão apegados àquele universo e àquelas pessoas que sentimos dificuldade em dizer adeus.
É o final perfeito para encerrar a saga, não tentando fazê-la ser mais do que é apenas seguindo seu curso e deixando todos com um sabor levemente amargo por não poder mais partilhar do encanto e doçura daquela história.







Comentários em Off.


É incrível ver o avanço dessa produção e a mudança de estilo que se obteve.
Avatar , A lenda de Aang foi responsável pela criação de um novo nicho de mercado nos Estados Unidos, e esperamos muito que esse nicho continue ganhando produtos nacionais de qualidade e mantenha-se explorado.
Por décadas a animação foi vista como um subproduto ou como uma arte inferior por ser destinada a crianças e finalmente esse jogo está virando! Espero que outros fãs de anime, como eu, consigam passar da primeira arrastada temporada para poderem vivenciar o crescimento maravilhoso da série e das personagens, espero que muitos ainda possam se apegar a esse universo :)
Estou com saudades dos personagens... dizer adeus carrega tantos feelings :( Tenho uma super quedinha pelo príncipe Zuko e tenho lotado meu tumblr com imagens de shippers hehe
Falando nisso, essa série coloca muito fanservice de qualidade, isso é sem forçar a barra! Achei ótimo, todo mundo fica feliz e a qualidade não é prejudicada.
Eu estou acompanhando a Lenda de Korra e talvez escreva sobre a série!
Sinceramente recomendo a todos

terça-feira, 19 de novembro de 2013

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Otona Joshi no ANIME TIME

A hora do anime da mulher adulta.

É um especial de 4 histórias inspiradas em contos contemporâneos que venceram prêmios de literatura escrito por mulheres para mulheres, tendo sido a primeira exibida em 2011 e as três últimas em 2013.
Tratam de mulheres na faixa dos 30 - 40 anos que refletem sobre sua posição na sociedade onde estão inseridas, suas perspectivas sobre o futuro e reminiscencias do passado.
O projeto é da NHK e os especiais foram exibidos tarde da noite, trata-se de uma maravilhosa aula de animação para o público não acostumado a ver obras de qualidade, uma vez que cada conto foi adaptado por uma equipe diferente.
Abro um parenteses aqui para falar um pouco da série sob uma ótica social-feminista, uma vez que ela apresenta personagens que só seriam possíveis no momento histórico em que nos encontramos, já que a sociedade japonesa tem se modificado muito desde o período pós-guerra e agora, na atualidade, com a globalização e o incrível intercâmbio cultural. Valores como casamento romântico, satisfação profissional, sucesso individual e são relativamente novos para aquela sociedade, e ainda mais novos para o gênero feminino; Portanto embora seja muito fácil se identificar com qualquer uma das personagens (ainda que eu tenha acabado de sair da adolescência), essas mulheres são verdadeiras párias daquela sociedade; realmente outcasts.
Pensar sobre a sua felicidade pessoal e sua satisfação e ou insatisfação com a vida que tem vivido traz sentimentos difusos para qualquer ser humano, mas para uma mulher comum japonesa traz também a culpa. (Claro, claro, o fato dessas histórias terem sido escritas, premiadas e adaptadas para uma mídia popular como a animação demonstra que muita gente tem se identificado, mas quero frisar que ainda podemos tratar essas personagens como frutos de um fenômeno atual; bem como tratamos histórias com protagonistas NEET por exemplo. Você pode ler um pouco mais sobre esse assunto nesse texto sobre A Rosa de Versalhes.)

Quanto aos contos.

Conto número 1) Kawamo wo Suberu Kaze
O conto número 1 foi exibido em 2011.
Dirigido por Hiroshi Kawamata acompanhamos a história de uma mulher de 33 anos que volta ao interior do Japão para visitar sua família depois de ter se mudado para o exterior e lá vivido pelos últimos 5 anos.
O traço e a animação são delicados e cuidadosos;
Nota-se que o exterior, no caso os Estados Unidos tem um papel importante e cosmopolita, a grande cidade e o desconhecido, enquanto o Japão é mostrado como um local aconchegante e tradicional; Bem como os doces típicos da região, o Japão não é muito doce ou luxoso, mas é o local onde os sentimentos afloram de maneira mais forte.


Com dois anos de diferença foram exibidos os outros contos.

Conto número 2) Yuuge (Jantar)

O conto de Yamada Eimi trata da vida de uma jovem esposa que, acostumada a viver conforme lhe ensinaram, decide largar tudo e se envolver com o lixeiro do bairro. A garota nunca teve um talento de destaque e mesmo sua personalidade não é muito interessante; Encontra então nessa fuga, o momento de se conectar com algo real, e vê através das refeições que prepara para seu querido uma maneira de tornar-se útil e importante.
A animação aqui é maravilhosa e marcante, intercalada com momentos live action para retratar a comida, fazendo essa ligação forte entre real e irreal, os cenários são pintados a aquarela e as cores são fortes e vibrantes e a riqueza como live-action e animação se misturam é incrível!





Conto número 3)  JINSEI BEST 10 (Os 10 melhores da vida)

Os 10 melhores momentos da vida de Hatoko, personagem do conto de Kakuta Mitsuyo, foram todos antes de seus 18 anos e não muito diferentes daqueles que a maioria de nós viveu ou viverá.
No meio do caminho a protagonista, agora na faixa dos 40 perdeu alguma coisa que lhe dava energia e disponibilidade para a vida e tornou-se uma mulher pacata que embora tenha uma promissora carreira não se entrega a nenhuma aventura.
Sua chance de repensar sua vida acontece quando ela recebe o convite para a reunião do colégio e vê o nome de seu primeiro namorado na lista dos organizadores.
Determinada a reviver o que quer que seja que tenha perdido ela prepara-se ansiosamente para a reunião enquanto repensa em seu caminho até aqui; O final desse conto é o mais surpreendente.
A animação é divertida e colorida com texturas irreais, o traço também não é tão sóbrio quanto o das outras histórias.



Conto número 4) Dokokadewanai koko (qualquer lugar menos aqui.)

Inspirado no conto de Yamamoto Fumio, a protagonista é uma mulher de 40 anos com marido apático e dois filhos já crescidos e que não a conhecem mais, que se dedica a tempo integral a família como uma boa dona de casa.Após seu marido perder o emprego ela é obrigada a encontrar uma ocupação de meio período e o faz numa loja de conveniência próxima.

A mulher não é reconhecida por seus trabalhos por nenhum membro da família, pelo contrário é constantemente lembrada pro todos de sua própria mediocridade o que a leva a desenvolver um quadro depressivo enquanto percebe-se sem vontade de fazer qualquer coisa.
Seu dia-a-dia é recheado de ocupações como dona de casa, mãe e trabalhadora, e assim ela acompanha sua energia ser sugada e tem seu único momento de verdadeira felicidade quando dorme e esquece de tudo, o que acaba acontecendo com mais frequência do que deveria.
A animação em si não é inovadora nesse conto, no entanto, o diretor é muito feliz no modo como retrata a depressão da mulher tomando parte dela e os apagões e lapsos que ela tem durante suas amadas sonecas diárias e a mediocridade de sua rotina. 


Os 4 episódios somam 2h no total, aproximadamente a duração de um filme, parece-me então que ao saber da existência dessa série assisti-la se torne uma obrigação para qualquer fã de animação japonesa.
As nuances das personagens são tratadas de maneiras muito diferentes pelos diretores, enquanto alguns escolhem fazer uso do texto, outros da própria animação e dos recursos visuais, deixando que ao final dos quatro contos o espectador tenha uma noção maior do leque de possibilidades disponíveis ao transpor literatura para áudio-visual. É uma verdadeira aula de roteiro e direção, bem como das maravilhas que a animação pode criar, já que várias das barreiras dos filmes em live-action não existem nas animações.
Recomendo para todos, especialmente fãs de histórias para mulheres, mas sinto necessidade de citar a obra Aoi Bungaku, que tem um formato parecido, e salta mais aos meus olhos.
(Lembrando que eu li os livros que inspiraram a série Aoi Bungaku (literatura azul), e comentei sobre um deles aqui ).

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sobre Bokurano (anime)

Acabei de terminar Bokurano, anime de 2007 que conta a história grandiosa de 15 crianças envolvidas em um destino sádico onde todas deverão pilotar um robô e derrotar inimigos que advêm de realidades paralelas, o preço para uma derrota é a destruição da nossa própria realidade e do mundo que conhecemos, no entanto cada piloto perde a vida após as batalhas já que a energia do meccha é gerada a partir da energia vital do condutor. Ou seja, não há vitória feliz.
A animação é bonita mas não apresenta nada espetacular, as melhores sequências estão na abertura o que é uma decepção já que o estúdio Gonzo é responsável por obras mais interessantes.
A trilha sonora é limitada e não apresenta nenhuma faixa marcante.
Apesar da temática sombria e da série ela falha ao não se aprofundar tanto quanto poderia nas personagens; O terror e as ansiedades das crianças que tem seus dias de vida contados e uma responsabilidade gigantesca nas mãos é apresentado de maneira fútil e superficial.
A animação também peca por não se decidir se tratará de drama psicológico colocando a atenção principal nas crianças, ou de um drama político; Não que séries desse tipo não devam abordar os dois lados, pelo contrário, mas Bokurano acabou tomando uma aproximação fraca sob  as duas perspectivas e se tornando muito inferior a animações com temáticas parecidas.

Existem momentos poéticos e bonitos na série que fazem com que um personagem e outro tomem destaque e se tornem quase interessantes, bem como em alguns momentos o movimento político começa a inflamar, mas infelizmente esses momentos não são sustentados e se perdem em seguida voltando a superficialidade inicial.
Indico para aqueles fãs de animes e histórias épicas pelo simples fato de serem épicas. (E sim tem muita gente que gosta de histórias assim e fica mais envolvido do que eu. Tive um grande debate esses dias sobre o que atrai as pessoas em Teggen Toppa Gurren Lagann e a maioria das pessoas me respondeu: É ÉPICO!)


PS: Escutei um comentário ou outro dos fãs do mangá de Bokurano sobre a superioridade da obra original, infelizmente o anime não me despertou vontade de lê-lo; mas leitora assídua de mangá que sou, quem sabe um dia? Quem sabe eles tem razão e houve um erro feio de adaptação? Quem sabe no mangá as personagens sejam bem mais exploradas? Assim espero...

sábado, 2 de novembro de 2013

Uma coisa ou outra sobre Um ator errante de Yoshi Oida

O objetivo desse texto é destacar alguns termos, expressões e temáticas abordadas no texto "Um ator Errante" de Yoshi Oida. 

O livro, publicado durante os anos 90 conta a história de vida do ator e diretor Yoshi Oida desde que deixa o Japão durante os anos 60 para juntar-se a companhia de teatro experimental de Peter Brook em Paris que visava estudos sobre a expressividade teatral, sua forma, função politico-artística entre outros.
O CIRT peregrinou por diversos países buscando compreender a origem e os limites da arte teatral e performática bem como da comunicação em si e Oida consegue através de sua narração em primeira pessoa transmitir suas descobertas da maneira como lhe ocorreram.
Mais do que o relato do excelente trabalho de pesquisa teatral desenvolvido pelo CIRT e seus artistas pluriculturais Um Ator Errante retrata a experiência de vida de um artista, seu amadurecimento como ser humano e como criador, e suas incríveis descobertas com relação ao mundo e a seu espaço e identidade perante esse. Além de proporcionar uma análise de uma série de acontecimentos do século passado como a segunda guerra mundial, guerra fria, revoltas estudantis e etc sob a ótica de um jovem ator.
Entre os inúmeros questionamentos presentes no livro destaco a recorrente crise de identidade que aflige Oida desde que saiu do Japão. Tendo vivido a ocupação americana no Japão após a segunda guerra mundial durante sua infância, Yoshi Oida cresceu consumindo cultura ocidental em um país cuja auto estima estava em baixa e tal como a maioria dos japoneses dessa geração, sente-se hibrido entre dois mundos, o ocidental e o oriental. Questionamentos sobre sua identidade japonesa, sobre o tipo de arte que deveria produzir e que se conseguiria bem como sobre sua própria percepção a cerca da cultura japonesa o cercaram durante toda a jornada, questionamentos esses muito pertinentes para os jovens atores da atualidade que crescem em um universo globalizado e que, com apoio da internet, tem acesso a diversas propostas diferentes de arte, interpretação e texto nem sempre mantendo uma linha de trabalho orgânica com a identidade regional, uma vez que limites geográficos foram reduzidos se não, apagados nessa nova era.
Portanto,  Um ator Errante não é apenas uma leitura recomendada para atores ou estudantes das artes cênicas que buscam resultados das pesquisas do CIRT, mas também para aqueles que se interessam em aprender com as experiências de vida de um japonês globalizado em um mundo onde esse termo ainda estava sendo difundido.


Abro um parenteses aqui para dizer que essa leitura e reflexão é muito interessante para pessoas que como eu não se sentem completamente representados pela identidade de seu país de origem, ou consomem demais a cultura exterior. É incrível como as vezes sabemos tão pouco sobre nós mesmos, ou, pensamos que sabemos pouco só porque nunca nos propusemos a pensar sem certos padrões e certezas.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sobre Elefante






Inspirado na tragédia em Columbine onde estudantes entraram no colégio atirando contra seus colegas, Elefante de Gus Van Sant ilustra de maneira trivial um dia numa escola no interior do Oregon.
Com narrativa fragmentada e uma cronologia em looping Elefante segue o dia de alguns estudantes do colegial, não há uma incrível dramatização sobre suas vidas apenas um retrato do que seria um dia normal, cada um imerso em seu próprio universo, tão distantes mas ainda assim tão próximos.
Essa banalidade dos personagens e dos acontecimentos é o grande trunfo do filme que selecionará até seu final sobreviventes e vítimas de um massacre simplesmente baseados no acaso e não em algum tipo de mérito ou moral.
Entre os garotos cuja vida é mostrada estão os dois que seriam mais tarde responsáveis pelo massacre na escola, nem esses são mostrados sobre uma ótica moralista ou culpabilizadora, são garotos comuns vivendo naquele mesmo ambiente sufocante. O filme não desperta um desejo de vingança do público contra os alunos que atormentavam os futuros assassinos, assim como também não nos afasta dos assassinos que não são  retratados como maníacos, pelo contrário, simples estudantes que falam de seus planos com certa excitação adolescente e o colocam em ação  de maneira muito simples. 
A cronologia suspensa gera uma tensão no espectador que fica a todo momento se perguntando se o banho de sangue já está para começar e constantemente tem essa ansiedade frustrada por mais imagens de um dia-a-dia ordinário de pessoas ordinárias.
(Preciso colocar um adendo aqui, existe uma pequena cena onde os jovens que planejaram o massacre jogam um video-game estilo Counter Strike. O filme, friso novamente, não tem a mínima intenção de apontar culpados ou vítimas, apenas de mostrar a banalidade do dia-a-dia e de como uma ação vai se amarrando a próxima; Mas me causou certo desconforto ver o vídeo-game ser citado, ainda que como um fator banal.)
Para colaborar com essa sensação comum de banalidade o diretor usa câmeras fixas sem focar em um personagem e outro, apenas registrando o que se passa e uma porção de planos sequência que registram, não apenas o personagem em foco mas seus arredores. Essa ideia nos aproxima das personagens uma vez que vamos seguindo seus passos pelo colégio, mas também nos coloca afastados como um observador em um documentário.
A fotografia e a paleta em tons de verde quebram a estética completamente documental do colégio e adicionam uma atmosfera mais lírica, o que colabora para a criação de um ambiente melancólico.
O filme é lindíssimo e merece ser assistido, exatamente por não ter pretensão a priori de ser uma análise profunda do emocional daquelas pessoas, mas sim um retrato onde vários universos coexistem e se chocam, alguns são interessantes, outros apenas tediosos.



(Duas peças de Beethoven são tocadas durante o filme, Für Elise e Moonlight Sonata, não sei exatamente o motivo delas terem sido escolhidas, mas como Brasileira e acostumada a ouvir Für Elise como a eterna musiquinha do gás, a escolha dessa música ajudou e muito a deixar o cotidiano daqueles jovens ainda mais medíocre, o que foi contrabalanceado com a dramática Moonlight Sonata.)

Então é, às vezes um Elefante na sala de estar incomoda.