Decidi escrever esse review em três partes, uma para cada temporada porque elas oscilam muito em estilo. A ideia é escrever uma crítica sem spoilers para que qualquer um que ainda não tenha assistido a série possa ler, especialmente fãs de animação japonesa que tem um pé atrás com animação americana.
spoiler free ~
Livro 1: Água
A primeira coisa notável sobre A lenda de Aang é que o estilo é completamente inspirado em animação Japonesa mas ainda assim incrivelmente americano; Eu nunca tive boas experiências com esse tipo de desenho que fica "em cima do muro". Diferentemente da animação japonesa que é cheia de closes no rosto e expressão das personagens ou de cenas detalhe a americana usa mais planos abertos, é como se os americanos (over generalizando), dessem mais importância a storyline enquanto os japoneses aos personagens diante daquilo que está acontecendo.Outra diferença que é a quantidade de frames desenhados, os americanos desenham muitos frames enquanto os japoneses deixam os movimentos reduzidos ao menos que a cena seja de destaque, notem como as personagens americanas movimentam os lábios perfeitamente como as palavras em Inglês! O problema é que quando decidem colocar efeitos de expressão comuns de anime (gota, personagens que caem no chão, olhos brilhantes etc...) eles não ficam orgânicos, pelo contrário quebram o fluxo de pensamento.
Outra diferença entre os dois estilos de animação, esse um pouco mais sutil é o uso das cores, animações japonesas tendem a usar cores mais saturadas.
A primeira temporada de Avatar tem problemas sérios de estrutura e direção, os personagens são incríveis e o roteiro é muito bem escrito e alinhado mas infelizmente, essas características não ajudam a torná-la emocionante e cativante, o foco é pouco colocado sobre as personagens que parecem adereços que ajudam a contar a estória. Não nos conectamos com nenhuma das personagens de maneira profunda.
A trilha sonora da primeira temporada é confusa e barulhenta. Usam variações do tema de abertura praticamente durante todos os episódios o que tira a força do tema em si, as músicas dessa temporada são fracas mesmo. A maioria delas é feitas com instrumentos de percussão o que é interessante e ajuda a compor aquele universo mas elas nunca se adequam ao momento em que são usadas e não conseguem trazer a profundidade que certos momentos necessitam.
(Enquanto isso, uma outra animação para crianças usa temas cheios de instrumentos de percussão e tem uma trilha incrivelmente emocionante e empolgante que ajuda a construir momentos de ação, tensão e drama. )
Quando a temporada chega ao final, apesar da história ter caminhado, das personagens terem crescido e de sequências e sequências de cena de ação épicas, infelizmente eu não podia estar mais apática, há inclusive a morte de uma personagem que, embora tratada como um acontecimento importante não me comoveu em nada, tudo isso em função dos erros de estrutura dos episódios anteriores.
(Note, que a própria cena de morte não possuí closes e planos detalhes, nos deixando distantes da situação e menos sensíveis a ela).
E assim... não muito convencidos ou apegados mas já suficientemente curiosos para saber como será o desfecho daquela história, partimos para o livro 2
Livro 2 : Terra
Ainda nos primeiros episódios do livro 2 os diretores parecem estar se acertando em relação ao estilo que seguirá a temporada, o segundo episódio da temporada já carrega mudanças drásticas de posicionamento de câmera que dão mais destaque aos personagens e as expressões faciais. Já nesse episódio temos uma sequência romântica que funciona muito bem e emociona, essa cena inclusive dá o tom de como será tratado o amadurecimento das personagens nos próximos episódios e temporada, de maneira mais plácida e calma sem a excitação e pressa que se observava na primeira.
As relações entre as personagens vão se fortalecendo, inclusive a entre os animais e os humanos, criando laços que comovem o espectador.
A persona de Sokka começa a ser melhor delineada e o garoto deixa de ser apenas o palhaço da turma para se transformar em um estrategista cativante enquanto Aang e Katara não sofrem transformações drásticas mas vão amadurecendo de maneira natural e se tornando mais reais dentro daquele ambiente.
Príncipe Zuko, o vilão que começou a ser mais aprofundado no final da primeira temporada rouba a cena durante o livro 2, e é uma surpresa muito bem vinda já que eles conseguem contar seu amadurecimento de maneira delicada e crível, e observe que desenhos americanos para crianças costumam ser maniqueístas então a atenção carinhosa que é dispensada a o príncipe e a sua relação familiar é uma surpresa maravilhosa!
Somos apresentados ao seu contexto familiar e começamos a notar semelhanças entre ele e o próprio protagonista, a relação entre o príncipe e o tio é de longe a mais bonita e explorada da série. (Até mais explorada do que o amor forte que sentem os irmãos Sokka e Katara).
Novas personagens chegam e todas ganham um olhar especial e personalidade cativante, destaco a princesa Azula que surge como uma psicopata louca cuja maldade faz parte de sua natureza e portanto não deve ser justificada, e para a nova integrante do grupo de heróis Toph a dobradora de terra, que consegue em tempo record se tornar amada por todos os espectadores com seu sarcasmo acentuado e sua falta de maneirismos para agradar os outros, Toph dá um sabor mais ácido ao time Avatar.
A trama ganha contornos mais sombrios e densos enquanto nossa noção do universo Avatar se expande quando chegamos a cidade de Ba Sing se no reino da Terra.
Durante essa temporada podemos observar o crescimento das personagens e o entrelaçamento das tramas coadjuvantes.
A mudança na maneira de conduzir a história e a escolha em aproximar o espectador das personagens foi com certeza o que me manteve assistindo Avatar. O season finale traz um plot twist realmente inesperado.
Livro 3: Fogo

A temporada não possuí muitas cenas de batalha, pelo contrário, calmamente constrói o ambiente de apreensão pela guerra e fortalece os laços entre as personagens ainda mais.
Os diretores investem mais em cenas de caráter emocional ou subjetivo e menos na pressa de adicionar elementos ao enredo. Todos os protagonistas são desenvolvidos brilhantemente durante a temporada inclusive os antagonistas e coadjuvantes, e alguns momentos delicados são apresentados ainda que não sirvam ao enredo, mas apenas ao fortalecimento e delineamento do caráter e personalidade daqueles heróis.
(Como exemplo a relação de Katara com o pai).
O humor deixa de ser exclusividade das piadas de Sokka e trona-se focado nas relações interpessoais, o que é muito mais interessante e funcional!
Aang, o Avatar, apresenta conflitos muito interessantes e profundos quanto a sua responsabilidade ao longo da série e seu modo de lidar com as pessoas e com sigo mesmo vai progredindo de modo que quando o momento final chega e temos as sequências grandiosas de luta ele não parece um simples heroi corajoso e poderoso que almeja derrotar o mal, mas um garoto forte e sereno capaz de transmitir o peso de ser um heroi.
A trilha sonora ganha destaque e ajuda a trazer emoções fortes para as cenas onde inserida, quando finalmente ouvimos uma variação do tema de abertura são em momentos grandiosos.

É o final perfeito para encerrar a saga, não tentando fazê-la ser mais do que é apenas seguindo seu curso e deixando todos com um sabor levemente amargo por não poder mais partilhar do encanto e doçura daquela história.
Comentários em Off.
É incrível ver o avanço dessa produção e a mudança de estilo que se obteve.
Avatar , A lenda de Aang foi responsável pela criação de um novo nicho de mercado nos Estados Unidos, e esperamos muito que esse nicho continue ganhando produtos nacionais de qualidade e mantenha-se explorado.
Por décadas a animação foi vista como um subproduto ou como uma arte inferior por ser destinada a crianças e finalmente esse jogo está virando! Espero que outros fãs de anime, como eu, consigam passar da primeira arrastada temporada para poderem vivenciar o crescimento maravilhoso da série e das personagens, espero que muitos ainda possam se apegar a esse universo :)
Estou com saudades dos personagens... dizer adeus carrega tantos feelings :( Tenho uma super quedinha pelo príncipe Zuko e tenho lotado meu tumblr com imagens de shippers hehe
Falando nisso, essa série coloca muito fanservice de qualidade, isso é sem forçar a barra! Achei ótimo, todo mundo fica feliz e a qualidade não é prejudicada.
Eu estou acompanhando a Lenda de Korra e talvez escreva sobre a série!
Sinceramente recomendo a todos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirquando vc fala de ter criado um novo nicho vc esta falando em que aspecto
ResponderExcluirComecei a assistir com tom de desconfiança já que à primeira vista é destinada para o público infantil, mas com o decorrer da saga fui me apegando de tal forma que hoje me considero um fã de avatar. Creio ser a série que melhor desenvolveu os personagens em todas que já assisti.
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