sábado, 6 de outubro de 2012

Bonitinha, mas ordinária

Texto, meio feito nas coxas para um seminário de teatro. Em todo caso, exatamente por ele ter sido escrito assim, meio mais ou menos, é que eu achei que cabia colocar no blog.




Bonitinha, mas Ordinária.

texto do dramaturgo Nelson Rodrigues.
Por Clara e Yasmin                                                                                                   - Alunas 2 termo C

Sobre o enredo.


                           Maria Cecília é uma jovem herdeira de 17 anos envolta numa aura candida e pueril, certo dia a garota é pega por cinco homens e estuprada numa encruzilhada de maneira bruta e violênta. Como forma de manter as aparências e disfarçar o problema, o milionário Werneck, pai da garota, pede a seu cunhado, Peixoto, que encontre um rapaz solteiro que aceite se casar com a menina. Nesse contexto surge Edgard, jovem humilde a quem a proposta é oferecida, tentado pelo charme infantil de Maria Cecília e pela enorme quantia de dinheiro que ela despõe Edgard decide aceitar o pedido e abrir mão de seu flerte com a vizinha Ritinha, uma professora que trabalha incansavelmente para manter a qualidade de vida de suas irmãs e mãe.
                          Edgard leva consigo um cheque de quinhentos mil cruzeiros, dado pelo futuro sogro, quando decide contar a vizinha que não poderão mais se ver, e que gostaria de um último beijo da moça, nesse momento final, Ritinha revela que não é uma professora, mas uma prostituta. Para salvar a mãe de falsas acusações no trabalho, ela prestara serviços sexuais ao chefe da companhia, que uma vez tendo deitado com ela, não cumpriu sua parte do trato. Com a mãe desempregada e três irmãs pré púberes Ritinha se vê obrigada a trabalhar com algo que traga dinheiro rápido, e entra no mundo da prostituição.
                          De volta a casa da futura noiva, Edgard decide ouvir de Maria Cecília como se deu o acidente, e ela relata o horror que sofreu citando ainda, o apelido de um dos estupradores – Cadelão; ai se dá a grande reviravolta, Peixoto, o cunhado, revela ter um caso com Maria Cecília e ser apelidado por ela de Cadelão, seu estupro era na verdade, a realização de uma fantasia da garota, que pagou para os cinco homens  e consentiu com o ato.
O desfecho da peça acontece quando o milionário Werneck dá uma festa regada a drogas onde as irmãs de Ritinha são dopadas e convencidas a participar de uma orgia, enquanto Peixoto desfigura Maria Cecília e a mata.
Edgard e Ritinha fogem juntos para a praia e decidem começar do zero, ele rasga o cheque de cinco mil cruzeiros e ela, cujo único objetivo de vida acabou de ser destruído decide ficar ao lado dele.


Um pouco sobre as personagens.


A análise abaixo foi feita com base no texto, em pesquisas a partir dele e em conhecimento a respeito do autor e de sua filosofia de vida, principalmente suas citações machistas.


Maria Cecília.

A garota é jovem e apresentada como uma personagem doce e virginal. (Nota-se que a virgindade simboliza aqui, uma característica pueril e santificada, atribuída excepcionalmente ao sexo feminino. Não se cobra virgindade masculina, nem se espera; em todo caso a moça virgem é automaticamente tida como sem falhas de caráter.)
A garota é “tão pura que nem alma tem”, e os pais acreditam que ela nunca teve nenhum tipo de contato de conotação sexual, nem mesmo um beijo, até o fatídico dia de seu estupro, onde a terrível realidade teria adentrado e rasgado seu mundo de sonhos.
Maria Cecília no entanto, se revela manipuladora e vil, capaz de armar o próprio estupro. (Mais uma vez, é importante aqui situar-mos no universo do autor, que não admitia como pura uma mulher que sentisse prazer com a relação sexual, principalmente sem amor.)
A garota é capaz de construir com minúcias a realização de sua fantasia, está no controle dos homens que paga para estuprá-la, no entanto, se mostra passiva diante da família que decide casá-la com um estranho.
O dualismo de Maria Cecília a torna muito interessante, a sua personalidade jovial não é apenas uma mascara, mas sim uma parte dela, tal como é a garota promíscua que tem um caso com Peixoto e promove orgias. No final, além de ser sentenciada a morte, Maria Cecília ainda tem seu rosto desfigurado, uma vez que o rosto e a vaidade da mulher eram vistos pelo autor como parte importante da identidade do gênero feminino, é óbvio que sua morte serviu de punição por sua vida amoral.
Maria Cecília é bonitinha, mas ordinária. Sem valor, sem honra.

Ritinha 

Ritinha abriu mão de sua pureza (novamente vista como a virtude da mulher), em função do bem estar de sua famíli. Ao tornar-se uma prostituta, todas as suas ambições caem por terra, ela deixa de sonhar com o casamento (algo que era visto como objetivo e realização de vida da mulher) e passa a sonhar apenas com um futuro honrado para suas irmãs. Ao abrir mão de seu orgulho e honra em mão de outra pessoa, Ritinha se torna caridosa e, por que não, uma heroína. - ou seja, adquire aqui um caráter além da divisa de gêneros imposta pelo autor, o que divide e conquista o protagonista da estória-
Ritinha é vizinha de Edgard, eles possuem a mesma situação economica, ela é como uma flor que nasce no concreto É bonitinha, mas ordinária. Sem nada fora do usual, comum.

Edgard

“O mineiro só é solidário no câncer” repete incansavelmente o protagonista.
Edgard acredita que o homem é por natureza um ser egoísta e sem caráter, no entanto enfrenta uma batalha interna entre aquilo que toma por verdade e o que sente.
Edgard não aparenta ter problemas com o próprio egoísmo ou falta de valores, mas se machuca e reluta quando tem que ir contra algo que lhe parece certo, tal como o amor romântico que sente por Ritinha em prol do amor comprado de Maria Cecília.
É possível perceber que Nelson Rodrigues era fiel ao amor romantico e condenava aquilo que desviasse dessa forma de afeto; A peça gira em torno do paradoxo de Edgard cuja razão diz para pensar apenas em si, mas sua verdadeira natureza é “correta”. Edgard surge na contramão da maioria dos personagens, que possuem uma natureza corrupta e culpam-se por isso.



Werneck

O pai corrupto de Maria Cecília, acredita poder comprar qualquer coisa. Luta pelo mantimento da moral e dos bons costumes, desejando casar a filha uma vez que ela  não era mais virgem, mas patrocina festas e orgias, compra a virgindade alheia e inclusive, compra um genro. Weneck surge como o incômodo retrato da sociedade Carioca.


Sobre o romance de Ritinha e Edgard é interessante observarmos alguns de seus mais importantes encontros, primeiramente os dois se encontram na floresta, longe de todos, fora dos limites; sua relação não é consumada porque são interrompidos por um doente; tal qual é uma relação secreta algo doente para a sociedade.
Seu segundo encontro se dá numa cova não preenchida, embaixo da terra, mórbido, tal qual a notícia que Ritinha despeja em Edgard, a de que não é uma moça 'digna', e sim uma prostituta.
A cena final se dá, no entanto a nível do mar, horizontalmente, tal como se inicia o flerte entre os dois vizinhos.


Bonitinha, mas ordinária, é um clássico do teatro brasileiro e apresenta bons exemplos da escrita Rodrigueana, tal qual a denuncia da hipocrisia da sociedade, o erotismo explícito, a erotização de garotas menores de idade, as características advindas das tragédias gregas e o moralismo subliminar.

A peça foi adaptada para o teatro três vezes, em 1963, estrelado por Jece Valadão, Odette Lara e Lia Rossi e dirigido por Billy Daves. Em 1981 com Lucélia Santos, Vera Fischer e José Wilker, dirigido por Braz Chediak e em 2009 com João Miguel,  Letícia Colin e Leandra Leal, direção de Moacyr Góes.



Fontes: http://mulheresquepecam.blogspot.com.br/2010/08/bonitinha-mas-ordinaria-perversao-de.html
http://www.rubedo.psc.br/artigosb/bonitinh.htm
http://www.socialismo.org.br/portal/critica/1274-a-mulher-na-cronica-de-nelson-rodrigues-

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