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terça-feira, 16 de agosto de 2016

Sobre: Avatar- A Lenda de Korra (Livro 1)


Anos atrás escrevi um texto sobre Avatar - O último dobrador de ar e comentei minha vontade de escrever sobre A lenda de Korra.
Bom, a série terminou em 2014 e acompanhei cada episódio avidamente, mas escrevo apenas agora em 2016 sobre minhas impressões da série, uma vez que estou revendo com meu namorado.
 Sem spoilers e apenas sobre a primeira temporada

 As primeiras cenas de A Lenda de Korra já mostram sua maior vantagem sobre O último dobrador de ar, o orçamento e a equipe técnica.
 Dirigido majoritariamente por Joaquim dos Santos, diretor que assumiu a maioria dos episódios da primeira série a partir da segunda temporada de maneira brilhante, Korra não começa com os pecados da primeira temporada de Aang e, além de exibir escolhas acertadas da direção desfila uma animação maravilhosa reforçada por uma forte trilha sonora. Isso mostra que, toda a progressão técnica que observamos na primeira série não foi em vão, Korra começa mais forte em direção, mais forte em trilha e em diálogos porque houve um aprendizado real.
 Como uma série do mesmo universo, é natural que existam comparações entre Korra e Aang, no entanto para aproveitamento real dessa é necessário deixar Aang ir, e a série usa grande parte do primeiro episódio para passar essa ideia ao espectador. Mas dar continuidade a uma história que foi aprovada e é querida por todos, nem sempre é tão fácil e a Lenda de Korra tem um desafio pesado para trabalhar enquanto busca encontrar o seu caminho, bem como a protagonista imatura, Korra, que tem a tarefa difícil de manter o legado do querido Aang dentro e fora da estória.
 É uma nova era, com novos personagens e isso precisa ser deixado claro o mais cedo possível, iniciando 70 anos após os eventos retratados em O último dobrador de ar, o universo que conhecíamos sofreu imensas mudanças; A começar pela transformação do ambiente bucólico em urbano, steampunk e industrial. Somos apresentados a Republic City, uma cidade modelo idealizada por Aang para ser sede de um governo centralizado. O primeiro episódio abusa de planos abertos afim de contrastar o ambiente urbano de cores frias com as incríveis paisagens estonteantes de Aang;
 E uma nova era traz uma nova geração de personagens, todos confrontados com o mesmo desafio da protagonista, o de conquistar o espectador que invariavelmente vai compará-los aqueles da série antiga. A série faz a escolha feliz de não tentar colocar os novos personagens na posição dos antigos, pelo contrário, cria perfis diferentes para a nova jornada; mais uma vez passando longe do maniqueísmo e nos mostrando personalidades profundas, com vontades, motivações, defeitos e qualidades. E se a protagonista será inevitavelmente comparada com seu antecessor foi decidido apresentá-la o mais distante possível dele; Mulher, adolescente, insubmissa; Criada com uma noção muito pequena de mundo, conhecendo apenas o que lhe era permitido e julgando-se especial Korra começa suas aventuras já uma lutadora habilidosa, mas uma pessoa ainda muito crua; Exatamente o oposto de Aang.

Prepotente, insubordinada, arrogante e com muita vontade de conhecer o mundo e seguir o papel que acredita ter nascido para viver; Korra sai de sua vila e é apresentada ao caos da cidade e as dificuldades das relações humanas de maneira muito brusca, ao que reage impulsivamente e apesar de aparentar força, ela passa grande parte da temporada sofrendo de ataques de pânico só de pensar no que terá que confrontar. Fica claro, que, assim como na primeira  série, a lenda de Korra não será uma jornada por poder, mas por amadurecimento, mais uma vez demonstrando o brilhantismo da franquia.

A estátua gigante, bela, quase mística e transcedental de Aang em comparação com a pequena, humana, Korra.

domingo, 2 de junho de 2013

Evangelion e Sartre, um pequeno estudo

Como muitos sabem eu estudo teatro, e na matéria de filosofia pude escrever um texto com temática livre :) Fiquei bem animada e decidi falar sobre anime! O meu problema começou quando percebi que nunca havia escrito um texto sob a ótica filosófica. Falo sempre do contexto social e as vezes artístico, esse foi portanto meu primeiro texto me focando na filosofia da coisa. Quem sugeriu que eu falasse sobre Evangelion foi minha irmã mais velha que disse que seria um tema mais fácil para mim... bom foi mais fácil do que pegar uma série que eu não conhecesse muito ^^ Por favor sintam-se livres para comentar


A influência de Sartre em Neon Genesis Evangelion.


Esse artigo pretende construir um paralelo entre a filosofia existencialista de Jean P. Sartre e a série de animação Japonesa produzida em 1995, Neon Genesis Evangelion, em especial o desfecho da série.


Primeiramente é necessário localizar o leitor a respeito de 新世紀エヴァンゲリオン  Neon Genesis Evangelion. Produzida entre 1995 e 1996 a, talvez mais bem sucedida comercial e criticamente, série de animação Japonesa entrou para a história com seu enredo de ficção científica pós-apocalíptico que tinha como personagem central Ikari Shinji, um garoto púbere e solitário. 
Apesar de inicialmente o foco da série ser o universo pós-apocalíptico esse centro vai sendo deslocado e tornando-se uma análise da psicologia das personagens e da sociedade daquele futuro em contrapartida com a sociedade Japonesa dos anos 90.
A série é recheada de referências a teorias filosóficas e psicológicas, os nomes dos episódios bem como as faixas da trilha sonora se propõe a eleger tópicos a serem debatidos ao longo da série, entre eles estão O complexo de Édipo, O Transtorno de ansiedade da separação, O dilema do ouriço de Schopenhauer e diversas teorias Freudianas, o Projeto de Instrumentabilidade Humana, por exemplo, é incrívelmente similar a teses Freudianas sobre comunicação interpessoal.

Esse artigo, no entanto, propõe-se a analizar a influência da obra de Sartre no universo de Evangelion; É necessário destacar que, uma vez que a série não se proponha a ser um trabalho filosófico mas sim um trabalho artístico ela não segue apenas uma linha ou corrente filosófica, pelo contrário, constroi personagens tridimensionais o suficiente para serem analizadas por correntes diversas e usa de artifícios e referências opostos; Não necessário pontuar que, uma obra de arte desse gênero tende a ser mais completa dessa maneira já que não é dever da arte abordar problemas relacionados a existência humana de maneira completamente racional, mas sim da filosofia. Evangelion é bem sucedido em provocar reações subjetivas ao expectador poupando-o de diálogos racionais e usando com sabedoria os recursos da linguagem cinematográfica. A linha de direção genial do diretor Hideaki Anno, no entanto, é assunto para outro texto.
(Que eu comento mais na TAG: Assistindo Evangelion com a Clara)

Se a série usa referências a diversos pensadores é necessário delinear um único momento para analizar a interferência da obra de Sartre, pois, dentro do panorama geral se tornaria impossível a análise pura de outras correntes de pensamento, elego portanto os dois últimos episódios.

As personagens se encontram no campo metafísico e se propõe a uma auto análise grupal que, eventualmente, resultará na cura da depressão de Shinji; Perguntas são elegidas e cada personagem responde como se sente a determinado tópico afim de delinear padrões.
O problema maior do protagonista Shinji Ikari e sua carência afetiva, uma vez designado piloto do humanoide capaz de salvar a terra dentro deste universo Shinji  consegue fortificar sua auto-estima embasada nos elogios recebidos e na sensação de ser peça fundamental de algo; No entanto, sua existência se dá unicamente para isso, pilotar por pilotar e ser elogiado por ser elogiado; Sem sua profissão Shinji não é reconhecido pelos outros o que o torna inútil ao seu próprio olhar e incapacitado, em função da depressão, de realizar tarefa alguma, e quem não age não é; portanto não existe.

Em L'être et le néant Sartre contesta o subconsciente freudiano e o determinismo religioso, o qual responsabiliza o homem pelos próprios atos e estrutura a ideia da liberdade então, como um aprisionamento do seu ("Não somos livres de ser livres") Já que o homem é o único ser capaz de criar o nada.

Ainda no caso Shinji Ikari em Neon Genesis Evangelion, o autor, Deus daquele universo de maneira não-diegética, faz com que Shinji entenda a ideia de Sartre ao redesenhá-lo em um universo livre de qualquer limitação, o mundo da liberdade. Nesse universo, no entanto Shinji percebe que a liberdade per se não é libertadora, pelo contrário. Em um mundo de total liberdade não existe nenhum grau de aprisionamento, nem o da consciência, nem o material e não existem portantos limites entre um ser e outro, ou o espaço, sem limites também não há a existência ou a consciência.
O protagonista, se entedia. (O protagonista, no momento é o tudo.)

Segundo a filosofia de Sartre o homem, nasce, e se percebe; Afim de que o tudo, antes Shinji Ikari, se perceba é necessário que exista outra consciência, outro ser, outro universo; No entanto, a existência de outro ser fere a ideia de liberdade totalitária. Um homem sabe que é diferente de um peixe, pois conhece as características de um peixe e não as reconhece em si mesmo; mas a existência de um peixe o impede para sempre de ser um peixe e isso é perda da liberdade de ser um peixe. O homem passa a habitar em um universo finito.
A percepção do outro é ainda mais delicada quando o outro é um ser da mesma espécie, o que difere o homem de outro homem? Para isso o homem deve observar outro homem e compreender o que o faz um homem e o que o faz um outro, bem como foi feito com o peixe; A análise de um terceiro, no entanto gera uma cópia do objeto de observação dentro do consciente do observador; Portanto a identidade de 'outro-homem' não pode ser total, uma vez que ela depende não apenas das informações enviadas pelo homem-objeto, mas do modo como são codificadas pelo homem-observador; Nossa identidade então é variada de acordo com aquele que se propõe a percebê-la.

Em Liberdade perfeita podemos estar onde quisermos e ser o que quisermos, portanto somos tudo mas também não somos nada pois não existe nada ou limitações para o ser, estar, pensar.
Essa ligação de ideias é apresentada de maneira ilustrativa e simples dentro da série Neon Genesis Evangelion. Shinji, o tudo, dentro do universo de total liberdade, percebe um outro e perde um grau de sua liberdade, analiza o outro e apartir daí, se percebe.
Shinji então reconhece que o seu universo é mais que necessário para a existência dele como Shinji, mas isso o devolve a estaca inicial, a de um garoto que não gosta da própria realidade e busca saídas Escapistas.
A série entra então em um momento final, onde as personagens que fazem parte do universo de Shinji, ou diria, do Universo-Shinji conversam com ele.

Sartre acredita que o homem é total responsável por sua existência "Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós".
A fórmula "ser livre" não significa "obter o quese quer" e sim "determinar-se a escolher". Segundo Sartre o êxito não importa à liberdade.

E em sua reta final, visando a saúde psicológica do protagonista compreendemos esse conceito, uma vez que o mundo seja pautado na maneira como interagimos com ele e que no universo de Evangelion, bem como nas teorias de Sartre não exista uma verdade absoluta, a resposta que ajudará Shinji a encontrar seu caminho é uma nova leitura de sua própria realidade e a releitura do que ele tinha como verdade. Shinji não sabia como lidar com o outro e chegou a desejar que ele fosse o universo, que o universo fosse ele e que nenhum existisse. A partir de sua nova conceituação de liberdade com base na teoria de Sartre ele vê que o homem e livre pois tem consciência e é capaz de fazer escolhas; O personagem que via o mundo exterior como incômodo e que lia rejeição em toda atitude do outro percebe  agora a existência de diversos universos, Os universos dos outros e o seu próprio universo de acordo com a leitura do outro; Shinji então percebe que é capaz de fazer uma releitura de seu próprio universo com base em uma visão não pessimista. De maneira ilustrativa reassistimos a cenas onde Shinji levava broncas e ouvia palavras rudes de outras personagens ao longo da série; Na leitura de Shinji tais palavras significavam desprezo e ódio, na leitura da personagem, por vezes significavam carinho e preocupação, capaz de ver o outro como um universo próprio Shinji percebe que sua verdade não é a única verdade e se vê livre do universo tenso e deprimido que tinha como verdade.
Shinji se abre ao próximo e percebe que sua liberdade estava na capacidade de escolha, e que ao escolher ver ao próximo ele percebeu não ser odiado por todos, ou um peso para a sociedade, mas recuperou parte da sua auto-estima e decide ter um novo começo, bem como o titulo da série propõe.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Filmes que marcaram a minha infância - O Jardim Secreto (1993)

O Jardim Secreto é uma adaptação para cinema de 1993 dirigida por Agnieszka Holland de uma série de livros escrita entre 1910 e 1911 por Frances Burnett.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Estudos sobre Um Bonde Chamado Desejo. Motivos


Motivos

Motivos são estruturas recorrentes, contrastantes ou artifícios literários que ajudam a desenvolver e informar os temas principais.

Luz
Durante a peça Blanche evita aparecer diretamente sob a luz, especialmente na frente de seu pretendente Mitch. Ela também se recusa a revelar sua idade verdadeira e fica bem claro que ela evita a luz direta para não deixá-lo ver sua beleza decadente. De modo geral a luz simboliza a realidade do passado de Blanche. Ela é atormentada pelos fantasmas daqueles que perdeu - seu primeiro amor, o propósito na sua vida, sua dignidade, e a aristocracia de seus ancestrais. 
Blanche cobre as lâmpadas do apartamento dos Kowalski com uma lanterna de papel chinesa e se recusa a sair com Mitch durante o dia ou em locais muito bem iluminados. Mitch aponta esse costume de Blanche na cena 9 quando a confronta com as estórias que ouviu de Stanley sobre seu passado; nesse momento Mitch força Blanche a ficar embaixo da luz e a diz que não se importa com sua idade apenas com suas mentiras. Blanche responde que não quer fazer mal a ninguém mas que acredita que a magia seja mais importante na vida do que a realidade. A incapacidade de Blanche de ficar perto da luz indica que sua capacidade de domínio da realidade está próxima do fim.
Na cena 6 Blanche diz a Mitch que estar apaixonada por seu marido, Allan Grey era como ter o mundo revelado em cores berrantes e desde o suicídio de Allan Blanche diz que as cores tem estado desaparecidas. Durante todos os relacionamentos inconsequentes de Blanche cm outros homens ela experienciou apenas luzes turvas e escurecidas, a luz vívida portanto representa a juventude e inocência sexual de Blanche enquanto a luz obscura é sua maturidade sexual e sua desilusão.


Banho
As experiências de Blanche a transformaram em uma mulher histérica, mas os banhos que toma durante a peça, ela diz, acalmam seus nervos. Esses banhos representam seus esforços de se limpar de seu histórico condenável mas, como é impossível apagar o passado seus banhos nunca estão terminados. 

Stanley também recorre a água para tentar apagar seu erro de bater em Stella, o banho serve para suavizar sua ira e, assim que ele deixa o banheiro ele chama por sua esposa com remorso.

Embriaguez
Ambos, Stanley e Blanche bebem muito durante a peça.
A bebedeira de Stanley é social, ele bebe durante os jogos de poker, com os amigos no bar e para celebrar o nascimento de seu bebê. A bebedeira de Blanche, por outro lado é anti-social, e ela tenta a todo modo mantê-la em segredo. Ela bebe para esquecer a dura realidade. O estado de embriaguez a permite mergulhar em sua própria imaginação e, entre outros, criar uma fuga com Shep Huntleigh. Para ambas as personagens beber leva a um comportamento destrutivo.
Stanley fica violento e Blanche ilude a si mesma. Ainda assim, Stanley é capaz de sair de seu estado de embriaguez enquanto o álcool leva Blanche gradualmente a insanidade.



terça-feira, 30 de abril de 2013

Estudos e textos sobre Um bonde chamado Desejo - Temas

Esse texto deve ter erros de ortografia. Traduzi apressadamente. Sinta-se confortável para me indicar os erros de concordância também hehe


Temas

Temas são ideias universais e fundamentais exploradas num trabalho literário.



A incapacidade da fantasia de superar a realidade.
Ainda que a protagonista de Um bonde chamado desejo seja a romântica Blanche Dubois, a peça trata de realismo social. Blanche explica para Mitch que mente porque se recusa a aceitar o que o destino preparou para ela, e mentir para si mesma e para os outros permite que a vida aparente ser como ela deveria ser, e não como ela é.
Stanley, um homem prático e firmemente preso ao mundo físico desdenha do universo de Blanche e faz tudo que pode para acabar com ele. O relacionamento problemático entre Blanche e Stanley é uma representação da constante guerra entre aparência e realidade o que impulsiona a história da peça e cria uma tensão permanente. Todas as tentativas de Blanche de recriar a sua existência e de Stella falham (de rejuvenescer e de salvar Stella de uma vida com Stanley). 
Um dos modos mais usados por Williams para ilustrar a dificuldade da fantasia em sobrepujar a realidade é explorando os limites entre interior e exterior.
A cenário da peça é o apartamento de dois quartos dos Kowalski e as ruas que o cerca, William faz questão de que ambos sejam retratados no palco colocando em evidência que o apartamento não é um santuário doméstico, ou seja, o apartamento não é um universo paralelo impermeável ao mundo exterior , os personagens entram e saem do apartamento constantemente e trazem consigo problemas que encontraram nas ruas. (...)
Ainda que a realidade triunfe sobre a fantasia em Um bonde chamado desejo Williams sugere que a fantasia também é uma ferramenta importante. No fim da peça Blanche volta a seu mundo particular de fantasia criando um escudo para se proteger dos golpes duros que tem levado da realidade. A insanidade de Blanche aumenta quando ela entra completamente em seu mundo privado e deixa o mundo objetivo para trás e se negando a aceitar a realidade.
No entanto, para ser completamente salva Blanche precisa transformar o mundo exterior naquilo que imagina e como a realidade não é parte de seu mundo de fantasia ela contenta-se em adaptar o que tem para que sirva a seus propósitos. Em ambos os reinos, psicológico e físico o limite entre fantasia e realidade é permeável. A felicidade iludida de Blanche ao fim da peça sugere que até certo ponto a fantasia é sim uma força vital importante para o indivíduo, ainda que a realidade sempre ganhe.

O relacionamento entre Sexo e Morte.
O medo de morrer de Blanche se manifesta em seu medo de envelhecer e perder sua beleza. Ela se recusa a dizer sua verdadeira idade aos outros e de aparecer perto de luzes fortes para não revelar sua aparência em decadência, ela parece acreditar de que se continuar afirmando sua sexualidade, principalmente com garotos mais novos ela será capaz de se esquivar da morte e retornar ao mundo maravilhoso da adolescência que viveu antes do suicídio de seu marido.
No entanto, ainda na cena 1 Williams sugere que o histórico sexual de Blanche é na verdade a causa de sua queda. Assim que chega a casa dos Kowalskis Blanche diz que viajou por um bonde chamado desejo e fez baldeação para o bonde cemitério que a levou até a rua Campos Elisios. Essa jornada, que acontece antes do início da peça é uma representação alegórica da trajetória de vida de Blanche, uma vez que os campos Elisios são a terra dos mortos na mitologia Grega. A entrega de Blanche a suas tentações causaram a perda de Belle Reve, sua expulsão de Laurel e, até o fim da peça, sua expulsão da sociedade. 
Blanche está familiarizada com o conceito de que sexo leva a morte, durante a peça ela é atormentada pela morte de seus ancestrais ao que ela culpa seus acessos de 'fornicações épicas'. O suicídio de seu marido foi resultado de sua desaprovação a sua homossexualidade. (...)
Na cena 9 uma mulher mexicana aparece vendendo "flores para os mortos" e Blanche se apavora por acreditar que ela anuncia seu destino. Seu caminhar para a insanidade é o final perfeito para duas de suas falhas - sua incapacidade de agir apropriadamente em relação ao seu desejo, e seu medo desesperado da mortalidade humana. 
Sexo e morte estão muito ligados na experiência de Blanche.

Dependência dos Homens
Um bonde chamado desejo é uma crítica sobre o modo como as instituições da sociedade Americana pós-guerra agia em relação a suas mulheres. Williams usa da dependência de homens de Blanche e Stella para expor e criticar o tratamento que as mulheres recebiam durante a transição do velho para o novo Sul. Ambas, Blanche e Stella pensam que a companhia masculina é o único modo de alcançar a felicidade e dependem deles para seu sustento e para a conservação de sua auto-estima.
 Blanche reconhece que Stella poderia ser mais feliz sem seu marido abusivo, mas a saída alternativa proposta por ela é contatar Shep Huntleigh e pedir ajuda, ou seja, ainda envolve dependência masculina. 

Quando Stella escolhe continuar com Stanley ela escolhe depender do amor e acreditar no seu homem ao invés de em sua irmã e Williams não critica a escolha de Stella - ele deixa claro que Stanley representa um futuro muito mais seguro para ela do que Blanche.
Enquanto Blanche vê seu casamento com Mitch como um meio de escapar do desamparo. A exploração masculina perante a sexualidade de Blanche a deixaram com a reputação destruída e tal reputação faz com que ela não seja vista como uma mulher boa para se casar, e por causa desse mesmo desamparo Blanche vê o casamento como sua única possibilidade de sobrevivência; Quando Mitch se recusa a casar com ela em função das fofocas que ouviu de Stanley, Blanche pensa imediatamente em outro homem para vir a seu resgate. 
Como Blanche não consegue ver nada além de seu mundo de dependência masculina ela não consegue imaginar maneiras de salvar a si mesma, e essa dependência é a causa de sua queda, por depender dos outros Blanche coloca seu destino nas mãos de outrem.


fonte


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Estudos e textos sobre Um Bonde Chamado Desejo

Atualmente estou numa produção de Um Bonde chamado Desejo, peça do Tennessee Williams.

Encontrei algumas análises sobre a peça e seus personagens na internet e busquei unir informações que achei interessantes por aqui. A minha maior fonte foi esse site então resolvi traduzir parte do seu conteúdo de forma livre para ajudar aqueles que não lêem em inglês mas estão interessados.



Análise primária das personagens principais

Blanche Dubois



Quando a peça começa Blanche já é uma mulher degenerada aos olhos da sociedade. A fortuna e status de sua família se foram, ela perdeu seu marido enquanto jovem e se tornou uma pária social devido a seu comportamento sexual indiscreto. Ela também tem um problema com a bebida que tenta esconder de maneira pouco funcional. Por trás de sua aparência esnobe vive um indivíduo inseguro e deslocado. Blanche é uma beldade que está envelhecendo e vive em pânico perpétuo de ver sua beleza esvanecer.

Seus maneirismo são delicados e elegantes, no entanto ela carrega um guarda roupa recheado de roupas baratas e chamativas. Stanley consegue ver através de Blanche rapidamente e procura informações sobre seu passado.

Na casa dos Kowalski Blanche finge ser uma mulher que nunca conheceu a perda da dignidade; Sua falsa moral não é simplesmente resultado de sua personalidade elitista, mas um ato calculado para fazer-se atraente para os homens do local. Blanche depende da admiração dos homens para que sua auto-estima fique positiva, o que indica que ela já se entregou de maneira passional diversas vezes. Blanche pretende escapar da pobreza se casando, mas como seu cavaleiro de armadura brilhante (Shep Huntleigh) não aparecerá, ao contrário do que ela se convence, Blanche é deixada sem nenhum tipo de possibilidade real de felicidade para o futuro; Ainda que Mitch esteja longe do ideal de homem que Blanche procura ele é sua única chance de contentamento.

(...) A peça tem como sub-texto a queda da sanidade e auto-estima de Blanche, o próprio Stanley é responsável por dar o golpe final em Blanche destruindo o que restava de sua auto estima mental e sexual ao estupra-la e envia-la ao sanatório. No fim, Blanche permite cegamente ser levada pelo doutor até o hospício. A imagem final é o triste resultado da dependência de Blanche nos homens para atingir sua própria felicidade.




Stanley Kowalski

A plateia pode ter a imagem errônea de que Stanley é um tipo de heroi da igualdade no começo da peça. Stanley é leal aos amigos e muito apaixonado por sua mulher; e possuí um vigor físico animalesco que se evidencia em seu gosto por trabalho braçal, brigas e sexo.
Sua família vem da Polônia e por vezes durante a peça ele demonstra seu desgosto em ser chamado de Polaco entre outros nomes; por exemplo quando Blanche o chama de Polaco ele faz questão de faze-la parecer ignorante e sem cultura repetindo diversas vezes que ele nasceu nos Estados unidos, é Americano e de que o termo correto seria Polonês.
Stanley representa a nova e heterogênea America da qual Blanche não faz parte, ela é uma relíquia de um passado onde onde dava-se mais importância a hierarquia social. Stanley se vê como um nivelador social, como diz para Stella na cena 8. ( Ou seja, o fato de os três viverem sob o mesmo teto deveria ser suficiente para coloca-los num mesmo patamar, mas os melindres de Blanche o lembram a todo momento da existência de classes sociais e de como ele deveria permanecer inferior).
O grande ódio que Stanley sente de Blanche é motivado, em partes pela aristocracia que ela representa, e também pois ele vê através dela logo de início e não aprova sua tentativa de fazer com que ele e os amigos a vejam como alguém superior.
Suas maiores diversões são apostar, jogar boliche, fazer sexo e beber. Stanley tem poucos ideias e imaginação.
Sua natureza degenerada e preocupante se mostra presente primeiramente quando ele bate na própria esposa, e mais tarde quando estupra a própria cunhada e não demonstra nenhum tipo de remorso.
A peça termina, no entanto, com Stanley na imagem do perfeito pai de família; abraçando a esposa enquanto ela carrega seu bebê. Essa imagem forte e irônica questiona a atitude da sociedade de transformar Blanche em pária e aceitar Stanley.

Harold "Mitch" Mitchell

Talvez por viver com sua mãe moribunda Mitch é incrivelmente mais sensível que Stanley e os outros amigos de poker. Os outros caras dão risada dele por ser um "garotinho da mamãe" e desde sua primeira e breve aparição é possível notar nele um comportamento mais gentil do que nos outros. Mitch é um homem bondoso que, como vemos na cena seis, gostaria de se casar rápido para trazer calmaria a sua mãe.
Mitch não preenche a lacuna de herói dos sonhos da Blanche uma vez que é muito fofo,  tem interesses pouco refinados e é um tanto desastrado, apesar de sensível ele também não compartilha do romantismo de Blanche e de sua compreensão de poesia e literatura. Ela brinca com a falta de cultura de Mitch - por exemplo na cena em que ela tira sarro dele por não saber nada de Francês.
Ainda que eles pertençam a mundos completamente diferentes Mitch e Blanche se atraem pelo desejo mútuo de companhia e acreditam serem adequados um ao outro. Logo mais, os dois descobrem que já viveram a morte de uma pessoa próxima.
O problema do relacionamento deles é sua questão sexual; para fazê-lo acreditar que ela é uma perfeita dama Blanche recusa contato físico várias vezes O que faz com que Mitch se sinta bravo e envergonhado sobre o modo como Blanche o tratava quando ele descobre seu passado sórdido, quando Mitch chega para confronta-la ele diz que merece fazer sexo com ela, em troca de como a tratou, ainda que não a respeite o suficiente para transforma-la em sua esposa.
A diferença entre a forma como Stanley e Mitch tratam Blanche na cena final reforçam o caráter cavalheiro que Mitch possuí. Ainda que ele deixe bem claro que quer dormir com Blanche ele não a estupra e a deixa sozinha quando ela pede, além do que as lágrimas que Mitch derruba quando Blanche luta para escapar da emboscada que Stanley criou para ela são genuínas, mostrando que ele realmente se importa com ela. Na verdade, Mitch é o único, além de Stella que parece compreender a tragédia por trás da loucura de Blanche.